quinta-feira, 17 de junho de 2010

Bons barulhos

 Ontem, enquanto eu me acomodava debaixo do edredon para dormir, ouvi um barulho de madeira do movel da sala. É engraçado como a reação a essas coisas muda com o tempo.

Assim que me mudei para cá, sempre que ia dormir e ouvia o barulho dos móveis ou até mesmo do chão, que é de tábua corrida, me assustava, parecia que tinha mais alguém aqui comigo. Era um certo esforço me concentrar em ir dormir e conseguir relaxar.

Hoje em dia, cada vez que ouço algum barulho da minha casa, acho extremamente reconfortante. É a casa se adaptando a mim, do mesmo modo como me adapto a ela todos os dias em que entro pela porta. Acho que é um pouco o som das coisas encontrando seus lugares.

Sempre fui muito ligada a barulhos. Eu sou uma daquelas pessoas que dorme melhor com um barulhinho no fundo - não uma televisão ligada, porque se tiver isso, vou ficar prestando atenção e tchau tchau sono. Aprender a trocar o barulho do ar condicionado do Rio pelo barulho da rua aqui em São Paulo foi um trabalho meio penoso, porque aqui o barulho não é nem um pouco ritmado e um tanto mais alto, mas enfim, foi mais um trabalho de adaptação.

Lembro quando eu era pequena, minha família tinha uma casa na serra, e eu dormia em um quarto perto da sala, onde os adultos ficavam conversando em frente à lareira. Acho que era um dos sonos mais gostosos que eu tinha, ouvindo todo mundo se divertindo, o barulho da lenha queimando e das chamas ao fundo. Quando acordava, tinha o barulho dos cachorros, do pessoal na cozinha ou na rede, e quando descia para a piscina, tinha o barulho do riacho correndo logo ali do lado.

Acho que foi por isso, entre outras coisas, que senti tanto quando soube que a minha avó tinha vendido aquela casa.

Os barulhos tinham ido embora. Os barulhos que marcaram dias maravilhosos da minha infância tinham ficado para trás e as chances de ouvi-los de novo ficaram limitadas a quase zero. Sinto falta dos barulhos da minha infância em geral, dos barulhos que não têm como voltar; do Colégio, de Cabo Frio, de Itatiaia.

Enfim, deixemos a nostalgia de lado. Pelo menos alguns barulhos da minha infância ainda existem, o almoço de domingo (ou sábado) na casa da minha avó e os mais importantes: os barulhos da casa da minha mãe. É extremamente gostoso saber que esses barulhos eu vou poder ouvir ainda por muito tempo e que estão somente a 6 horas de viagem.

É isso, barulhos vão e deixam saudades, mas em compensação, novos barulhos vão chegando também. Barulhos típicos e próprios do meu trabalho - toques um tanto curiosos de celulares das pessoas em baias ao lado, barulhos do meu carro, barulhos da casa do namorado, que ficam mais familiares conforme o tempo passa.

E quem sabe um dia, alguns barulhos da minha infância que ficaram para trás não voltam a fazer parte da minha vida? Não custa nada sonhar. E enquanto isso não acontece, vou ficando com meus queridos barulhos, esperando a qualquer momento meu apartamento dar mais um sinal de acomodação...

2 comentários:

Rafa disse...

Muito legal isso:

"Hoje em dia, cada vez que ouço algum barulho da minha casa, acho extremamente reconfortante. É a casa se adaptando a mim, do mesmo modo como me adapto a ela todos os dias em que entro pela porta."

Eu nada tenho contra barulhos e tem alguns que eu até gosto, mas na hora de dormir... Prefiro o silêncio absoluto. Vou te dizer que no geral: Prefiro o silêncio "ensurdecedor" da madrugada para tudo: Escrever, pensar,fumar e até ver um filme. Embora eu também tenha saudades dos barulhos da minha infância (acordar e escutar o pessoal pulando ná água ou coisa do tipo)... Acho que fiz do silêncio ou da falta de barulho... Um amigo ou vá lá... Uma inspiração que hoje em dia é indispensável na minha vida. "Indispensável" talvez seja muito forte, mas que é muito importante... Isso é.E que fique registrado: (Na minha opinião) nada melhor do que dormir, fumar ou escrever com o barulho da chuva. Esse? É imbatível.

Beijoss!

Unknown disse...

Interessante perceber como um blog nos faz conhecer melhor as pessoas... Mesmo aquelas com quem vivemos por toda a vida.
Não sabia o quanto barulhos são mapeadores de lembranças para você. Tenho conhecimento do poder "embalante" do barulho do ar condicionado. Mas os outros? Gostosa novidade.
De repente me vi identificando esses e outros barulhos, como o do elevador de Cabo Frio, que sempre me passaram despercebidos e também senti nostalgia.
Tenha certeza de que você resgatará muitos dos sons de sua infância e que eles farão parte da infância dos que virão.
Um beijo grandão.